Um engarrafamento
interrompeu a o trajeto do ônibus de viagem. As teorias ja começaram a se
levantar, os passageiros cogitaram um assalto, alguém disse que era um
acidente. E a célebre frase surgiu:
- Melhor que tenha sido um acidente do que
um um assalto.
Claro, nada mais óbvio do que preferir que a pimenta arda no
dos outros. Ah! E andem logo com esses corpos aí na frente pra gente poder
seguir viagem. Uma Saveiro
parece ter vindo na contramão e entrou debaixo de uma carreta, na pick up
ninguém sobreviveu.
Na
sociedade do espetáculo a morte é algo comum pra ser fotografado, filmado... e não
foi surpresa que um passageiro do ônibus entrasse com gravações do seu
ipad do momento em que tiraram os corpos da Saveiro. Os comentários não
amenizam a situação.
- Mas me
falaram que tavam inteiros...
- Pois é,
olha ali um pedaço caído pra fora!
Claro, só
nos falta o canibalismo como alimento diário, porque de resto, comemos crenças e
a nossa terra sem remorso algum. Talvez eu esteja sendo careta demais, talvez
eu devesse aprender mais com os mexicanos a festejar a morte. Mas sim, festejar,
não fazer uma sessão de cinema pós mortem
com os companheiros de viagem.
- Bom, mas
disseram que liberam a pista em 20 minutos.
Foi
levantada a possibilidade de desviar e seguir por uma estrada de terra caso a liberação da via
demorasse.
- Ah! mas
lá tem estrada de chão e a aldeia indígena... Deus me livre!
CLARO,
SÃO ELES OS CANIBAIS!!!
Todos ficam
parados na pista, o motorista vem informar que a Saveiro era roubada e que os
amigos do condutor e do passageiros vieram ver o que aconteceu. Estavam com os
olhos inchados e com uma cachaça na mão, entao ufa! Está tudo justificado e eles mereceram, a gente nem tava se
importando, mas agora que são bandidos, menos ainda!
O pensamento é treinado, direcionado, a sociedade é dividida entre os bons e
maus, assim fica mais fácil julgar quem é merecedor do paraíso e quem vai arder
no fogo do inferno. Eu acredito em uma sociedade mais maleável, que transcenda
as divisões feitas pela política e pela igreja, mas ainda acho que a estrada é
longaPenso que esse relato pode sinalizar um comportamento que muitos pensam estar sendo limado. Edgar Morin, diz que nós estamos na idade do ferro da era planetária. Estamos numa sociedade ainda infantil, a autodestruiçao nos agrada e a puberdade dessa era ainda tarda a chegar.